DIRCEU AYRES
Deus, essa tristeza me consome!
Como continuar vivendo assim?
Como pode minha vida tão ruim?
Tenho medo até de não ser homem.
Sempre fui bom pai, e bom amigo!
Não acredito que com isso me afaste
De Deus, não há castigo nem desgaste!
E ainda mais, sou bom, e sem castigo.
Uma tristeza ruim que me acabrunha
Fico pensando... Isso leva a solidão?
Talvez precise alguém me pegue à mão!
Pra não roer a substância córnea da unha.
Penso que da vida que eu tirei proveito
Em meus poucos momentos de alegria,
A minha mãe tão experiente já dizia:
“Que um emissário DEVINO, eu seria.”
Parmênides de Eléia e Platão tinha razão!
Somos sombras nesse mundo de ilusão
Nesse lado só tenha muita escuridão
O lado verdadeiro, só tem Grande clarão.
Continuarei cumprindo a amarga sina
Enquanto chega a hora derradeira.
Amiga, inimiga, será então primeira,
Passageira, da viagem que termina.
Estarei então na frente do “senhor”;
Prestarei contas de tudo que aqui fiz
Com muito gosto voltarei a ser aprendiz
Para glória de descendente que ficou.
Ficarei feliz no novo aprendizado
Estarei com Anjos de muita candura
Que até falando, exalam só ternura.
Saio do mundo; não deveria ter estado.