quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A TRISTEZA

                    DIRCEU AYRES


Deus, essa  tristeza me consome!
Como continuar vivendo assim?
Como pode minha vida tão ruim?
Tenho medo até de não ser homem.

Sempre fui bom pai, e bom amigo!
Não acredito que com isso me afaste
De Deus, não há castigo nem desgaste!
E ainda mais, sou bom, e sem castigo.

Uma tristeza ruim que me acabrunha
Fico pensando... Isso leva a solidão?
Talvez precise alguém me pegue à mão!
Pra não roer a substância córnea da unha.

Penso que da vida que eu tirei proveito
 Em meus poucos momentos de alegria,
A minha mãe tão experiente já dizia:
“Que um emissário DEVINO, eu seria.”

Parmênides de Eléia e Platão tinha razão!
Somos sombras nesse mundo de ilusão
Nesse lado só tenha muita escuridão
O lado verdadeiro, só tem Grande clarão.

Continuarei cumprindo a amarga sina
Enquanto chega a hora derradeira.
Amiga, inimiga, será então primeira,
Passageira, da viagem que termina.

Estarei então na frente do “senhor”;
Prestarei contas de tudo que aqui fiz
Com muito gosto voltarei a ser aprendiz
Para glória de descendente que ficou.

Ficarei feliz no novo aprendizado
Estarei com Anjos de muita candura
Que até falando, exalam só ternura.
Saio do mundo; não deveria ter estado.

Insano desejo

                    DIRCEU AYRES.

 Madrugada o sono não aparece,
Vem ao peito a dor que me devora,
Dor crucial que aumenta toda hora,
Ser humano que está vivo e padece.

Dor crucial que na solidão aumento
Esse momento infeliz que vivo agora,
Espero ver por fim, chegar à hora!
Acabrunhado, a alma em desalento.

Tenho encontro fatal com essa megera
Já vivendo com minh’alma combalida
Como viver com essa amarga lida,
Que um ser humano seu pensar libera.

Alforriado mas com a alma adoecida,
Ai, quem me dera que tivesse agora!
O encontro amargo com essa senhora
Que com jeito quer levar a minha vida.

Porque viver é tão amargo assim
Para mim, onde existe a solidão!
Sendo bom, não preciso de perdão;
A saudade, a tristeza, mora em mim.

Agora com desejo insano e impuro,
Quero com a morte dar uma brigada!       
Grande briga logo aqui anunciada
Pois assim vou brigar estando seguro.

DOUTOR RODRIGO E O ANEURÍSMA

              DIRCEU AYRES

Conheci Dr. Rodrigo
Vi que é boa pessoa,
Sua conversa é boa
Além de ser bom amigo.
Esse rapaz tão querido
Vai me ajudar a vencer
O aneurisma pode crer,
Pois isso não é castigo.

Da Patrícia é bom amigo
O garoto é bom caráter,
Não vai deixar que me mate
Eu sou um velho querido.
Vai falar com seus amigos
O aneurisma estudar
Não vai meu caso largar
Nem que fosse inimigo.

Pegar um especialista
E com ele conversar,
Prescutar, avaliar!
Para que eu resista.
Não posso viver assim
E não vou ficar em casa,
Eu vou tentar conversar
Com Engenheiro da NASA.

Um Engenheiro da NASA
Fabricar esse remendo,
Vê se depois eu entendo
Quando estiver em casa.
A Prótese ele fabrica
Não é trabalho pra casa;
Só Engenheiro da NASA,
É quem faz e quem indica.

Endoprótese é um canudo
Na artéria ele navega,
Vai por dentro e carrega
O aneurisma buchudo.
Sair dessa numa boa
Ao Rodrigo agradecer
Depois de operar, saber!
Se o serviço é coisa atoa.                         

A bela Nayda eu vou ver
Pra matar saudade dela
Não perturbar tanto a ela;
Amizade é pra valer
E depois eu vou fazer
Uma festa bem safada,
Raparigas convidadas
Pra alguma alegria eu ter.

Pretendo viver mais tempo
Logo depois me acertar,
Só não vou deixar cortar
O meu bucho, eu não agüento.
Quando sair do Hospital
Vou mandar tocar sanfona
Chamar a minha Eliana,
Pra fazer um Carnaval.

E já que falei em bucho,
Lembrou-me uma buchada
Que comi com camarada,
Pra quem come dá repuxo.     
Uma cachaça danada
Pra tomar com a buchada
Acompanha uma rabada
É melhor que feijoada.

Depois que sair da mesa
Tomar cachaça de cana
Agarrar-me a Eliana.
Agora virei ALTEZA.
Pra me fazer respeitar
Vou pegar minha Peixeira
Cortar chão da gafieira
E a poeira levantar.

Eu vou mandar buscar
Zé Pelintra, Zé Rojão!
Mané dedo Zé Grandão
E um outro vai chegar.      
Eles são muito valentes
Más não é muito amigo
Vão proteger Dr. Rodrigo,
Que é quase meu parente.

Assim que tiver satisfeito,
Vou dar farra em São Paulo
Depois, venho á Cavalo;
Pra fazer teste nos peitos.
Vou testar também as tripas
Pra ver se o balanço corta
Também vou testar aorta
Pra vê se ela se estica.

Estando tudo de bem
Com aorta que estica
Vou rezar, lá onde fica,
O Santo que me quer Bem.