sábado, 23 de julho de 2011

A HORA DA MORTE


            DIRCEU AYRES
Nem as sombras de inúmeras feições     
Brados desmontados, queixos caídos,
Lágrimas falsas caindo para o chão,
Risos de escárnio, ou gritos já vencidos.

Só lendas e sendas de um trovador,
Bocas cantando uma bela canção,
Só as sagas desse grande sonhador
Dedos volitando cordas de um violão.

E assim minha alma com ternura
Subirá para a terra da luz dourada
Para onde vou o local só tem doçura
Não trilhará nunca mais esta estrada.

Aí sim, vencerei a morte tão danada!
Levarei comigo essa minha amizade
Dos que ficam prá trilhar essa estrada
E com isso diminuirei a tal saudade.

Pois amizade é pura não se contamina
Será lembrada muito além do infinito,
O prazer de tela junto é que me anima
Não preciso vê-la, pois, apenas sinto.

Seguirei por fim a grande estrada
Até chegar à entrada da caverna
Dos antigos com estória tão sofrida.
Local amigo onde a vida se encerra.      

sexta-feira, 22 de julho de 2011

BUSCA DO AMOR


Dirceu Ayres


Se um amor encontrar, não o recuses;
Ao ver sentir no peito, o seu carinho,
Te junta a ele, e trás pra teu caminho
O eito de amor com carinho e cruzes.

Em ti se acenderão milhões de luzes,
E haverão de iluminar-te plenamente,
Tornando-te um ser tão incandescente
E te livrarão dos males com tuas cruzes.

Se tu buscares o amor, isto é diferente
Em tudo com resultado precedente,
tornando-o aos poucos tão descrente,
E toda paz a que o amor não interfere,
na tua busca, em mágoas se transfere,
Sofrerás por buscar amor eternamente.


Deixa que o amor venha a ti, menino.
Pois o amor é como se fosse sagrado
Muito embora por todos seja almejado
Ele é um ser sem ninguém e sem Destino.


Deixa-o procurar-te, com seu próprio jeito
Não o despreze para não ser desprezado
Sua angustia de amar será tão respeitado
O amor por osmose penetrará todo seu peito.


Sendo assim aconchegado em seu peito
Deixará que seja feliz e com mais alegria
Mas como tudo, esse tudo acabará um dia
E lembrarás esse amor com mais respeito.

A MINHA VELHICE

          DIRCEU AYRES
Envelheci; tão depressa, não esperava; 
Desapareceu toda minha mocidade,
Em minha existência atribulada!
Não era bem assim que eu pensava.

Sempre julguei que a velhice tava longe
Descuidei-me, pensei que era aventura.
Vida sofrida, recheada de amargura;
Agora o fim sem a reza, nunca fui Monge.  

Nordestino, cheio de Nordestinidade!
Fim da linha, muito cheio de saudade;
Brasileiro, cheio de Brasilidade!
Vou pra terra, muito cheio de bondade.

Sempre achei que a minha mocidade
Ia durar uma vida farta e pura
Sem me preocupar com as agruras,
Agora amargo o fim, é só saudade.

Minha infância, sempre cheia de aurora!
Fui feliz, não reclamo à vida crua...
O pai pobre, eu brincava pela rua;
Muito bom, pois, não reclamo agora.

Assim, eu vivi como menino;
Caçando, Pescando, estudando;
Na missa via o Padre comentando
Tudo que ele dizia do Divino.

Cresci... Em Camaragibe fui morar
Mesmo sendo rapaz eu trabalhava,
Na banda de música eu estudava    
Arranjava tempo para namorar.

Trabalhei, muita gente ajudei.
Casei-me, uma Família constituí.
Meu primeiro salário eu recebi
Pra Capital com família me mudei.

Na Cidade também me estabilizei
Comprei casa, tudo com muito jeitinho;
Os meninos sempre dedicaram carinho
A Mulher que no início eu bem amei.

Agora estou de testa com a velhice
Juventude com o tempo já passou
Agora doente e velho já estou
A Morte olha, seu assecla me assiste.

terça-feira, 19 de julho de 2011

   FULÔ DO MEU CORAÇÃO    

        DIRCEU AYRES
Quagi toda manhãzinha
No topo duma montanha
Meu cavalo nem assanha
Vou pegar Mariazinha.

Morena cô do pecado
Nasceu lá no interiô
Por ela que aqui eu to,
Não dexô nada errado.

No cabelo preto a fulô
Cheirosa, é sempre assim.
Sempre chêro de jarmim
A menina é meu amô.

A reiva anda cherosa
Por onde piza e caminha
A rosa qui é só minha
Morena forte e dengosa. 

É assim Mariazinha
Fulo do meu coração,
Mata quaiqué cristão
O chêro da menininha.

Gravô in meu coração
Com o ferro já em brasa
Não agüento mais in casa
Tanto amor, tanta emoção.           

Mai quem vai sarvar a gente
Dum amor forte qui ispanta
Baxa tudo qui alevanta
Essa moça forte, é valente.     

Levantá voz ta perdido,
Levanta mão também não,
Só se alevanta a paxão
Ou coipo já estendido.

Como coisa que entoa
Eu vou tentar é batalhá
Nunca com ela vô brigá
Vou tentar ficar na boa.
NAMORADA OCULTA     

     Dirceu Ayres
As coisas que eu disse sim,
Nunca mais vou te esquecer
Pois vives dentro de mim,
Que eu queira, ou sem querer.
Pois eu nunca vou poder
Tratar com jeito ruim
Lembrar de nosso “fazer”
Vou chorar dentro de mim.

Bebi muito de você.
Sinto que to diferente
Agora que posso é ser
Uma pessoa decente.
Brinquei muito de esconder
Negando o “bom” a você!
Mas não era o meu querer
Com raiva vou ter de dizer.

Estou com arrependimento
Fico triste quando lembro
Sofrimento que não agüento
Dentro de mim está vivendo.
Hoje musa inspiradora
Estudo para esquecer
Ta virando sofredora,
Não está no meu querer.

Agora guardo lembrança
Do tempo que já passou
Ainda tenho esperança
De voltar, ser seu amor.
Vou viver bem esses dias
Se você, não me esquecer,
Tenho certeza eu já sabia  
Que isso ia acontecer.


ÁÇO DE BOA TÊMPERA     

    DIRCEU AYRES
Meu aço não destempera
Pois sou de aço forjado,
Não vivo destemperado
E comigo não se espera.
Sou aço inoxidável
No fogo eu fui forjado
Depois eu fui molhado,           
Bem tratado e moldável.

Com raiva sou ferro em brasa
Na água eu fui temperado,
Ferro Gusa misturado
Para um aço bem tratado.
Na forja eu fui derretido
Peguei forma com o malho
Faíscas que eu espalho,
Bom estar de bem comigo.

Leva ao fogo, destempera;
Agulha, carro, caminhão,
Canivete, faca e facão,
No forno o aço tempera.
Fabrica ponta de flecha,
Usa o aço prá canhão,
No ponteiro do ferrão
Prá tudo o aço se presta.

Ser de aço como eu sou
Ter a forma tão ladina
Com uso na medicina,
Bisturi pinça e pivô.
Faz a enxada que cave
Após derreter o aço,
De pedaço em pedaço,
Fazem até espaçonave.

Pense como sou homem
De aço todo forjado,
Tenho de deixar legado;
Essa idéia me consome.
Se for o jeito que tem
E outro jeito não há;
O meu jeito é não deixar
O aço, para ninguém.


       A FAZENDA                  

      DIRCEU AYRES

Na Fazenda a bicharada
Descansando, ruminando;
Sem querer ir prá estrada
Deitada só mastigando.
À tardinha abro o curral,
Para os bezerros prender
O vaqueiro não é mal
É pro leite não beber.

Ajuda do leite que vende
Faz a Fazenda melhorar,
O morador já entende
Que melhora vai chegar.
Pois ele vivendo aqui
Cuidando da campineira
Ouvindo estória de sacy
A noite junto a fogueira.

Cuidar bem dos animais
Da produção da Fazenda,
Cuidando, mas tu estás,
Sem que a gente te entenda.
Coentro, cebola, pimentão
Salsaparrilha, batatinha,
Tem xuxú e baba-timão
Plantado por Menininha.

Quando é hora da comida
Hora de muita alegria
Vamos encher a barriga,
Descansar pro outro dia.
Na Fazenda é coisa boa
Tomar muito banho de rio
Comer muito, andar à toa
E enfrentar o desafio.

De tardezinha satisfeito
Ao regressar do trabalho
O pasto já está bem feito
Lá eu não tenho atrapalho
E está limpo o roçado,
E também todo terreiro
Tudo entupido de gado
Deitado sem desespero.

Acho tudo um colosso
Venha espiar como eu,
Olhando para o pescoço
O caroço que apareceu
O nó que fica andando
Com comida que comeu
Vai andando prá danar
Remoendo mastigando.
Às vezes fico pensando,
Ta preparando o jantar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

  A TRÉPLICA               
Zuleica Ayres   
(troco do toco)

Quem me dera que eu tivesse
Esse dom que deus lhe deu,
Gostaria que eu pudesse
Dar um troco a seu Dirceu.
Revendo agora seus versos
Percebi que há vinte anos
Estudava se era o certo,
Enfrentá-lo mano a mano

Tudo mudou pra você
Como se fosse castigo,
Sofrendo tanto sem ser
Malvado, nem ruim amigo.
Consegui até provar
Que muito já batalhei,
Numa avaliação pode estar
À medida que empreguei.

A casa tão referida
Que ficou tão mal falada,
Transferi pra uma amiga
Que depois ficou zangada.
O meu tempo foi assim
Com uma luta danada,
e não fui tão boa assim!
Na criação da moçada.

Despeço-me por aqui
Dessa resposta rasgada
Pois acho que consegui
Resposta desmantelada.
Ver-nos-emos muito em breve
Pois sei, aqui vai voltar,
Queimador do toco e cerne
Que sabia desgastar.

Vou curtir o meu passado
Agora que tenho a fita,
Trabalhar no meu estado
Cuidar de evitar a Bica,
Pois se com ela me agarro!
Eu me estrompo, e ela fica.

Parodiando o poeta
Zuleica aqui não se arrisca,
Vai cuidar de suas netas
Se não cuida, se trumbica;
Cuidar bem da sua peteca
Viajar, se tornar rica;
E quando a morte chegar,
Morte vai, Zuleica fica.
                                                 
                                  
   O TOCO                                                 
   DIRCU AYRES                   

Chequei uma certa vez
Numa casa bem falada
Encontrei um toco grande
Que muito me incomodava.

Teu porte, tua altivez,
Teu tamanho já de vez
De muito impressionava.
Toco macho sem vergonha
A mim tu não metes medo,
Uma vez te botei fogo
Já estudei teu enredo,
Vou transformá-lo em carvão
E desvendar teu segredo.

Seu Francisco já me disse
Que nuca vai acabar,
Pedi ajuda a Alexandre
Más este só quer mamar,
Só posso contar comigo
Pró-inferno te mandar.

Quando chegar ao Inferno
Cumprimenta o Satanás
Mande aprontar aposento
Pra quem deixaste pra trás.
Um bom quarto para Erick
Pois este bebe demais,
Um outro para Saly
Que acerto não quer mais
Guarde com muito carinho
Pra Consu e Migué Arrais.

Um amigo especiá
Estou para te mandar
Tens qui ter muito cuidado
Pra Satanás não se zangar
Pois ele também tem pontas
Iguá ao chefe de lá.

Vou ficando por aqui
Tou cansado de falar,
Observando o ambiente
Vendo Zuleica engordar
Suely quando dá bronca,
Simone passa a miar
E eu que sou o Dircinho
De mansinho vou escapar.


    “ANORÉXA”                                                
                                                               
         DIRCEU AYRES

Mande-me essa “anoréxa”
Que não come macarrão,
Que vou cuidar logo dessa
Que nem sequer come pão.
Desfilando todo dia,
Da doença não sabia;
Já tinha a Anorexia
E não se “ligava” não.

Anorexia é uma doença
Nas meninas com certeza
É quem produz a magreza
E não foge dessa crença.
Pois se torna uma doença
Por falta de esperteza
Acredite nessa crença,
Tenho a cura com certeza.

Eu sou muito caridoso
Com elas não se conversa
Mesmo sendo Anoréxa
Meu jeito é muito famoso
No mundo, em todo Universo
Eu não sei ficar medroso
Se me falam, desconverso
Prá não me achar cabuloso.

Anorexia dá magreza;
Essa doença é danação;
Se não cuida, com certeza
Vai morrer de inanição.
Eu vou cuidar muito dela,
Sua mãe fica sisuda,
Vou encher o corpo dela
Prá ficar toda carnuda.

Também vou encher os seios
Más seu Pai não vai gostar
E eu não tenho receio
Boa mulher vai ficar.      
Sou mestre desta escultura
Seu corpinho eu vou mudar
Ficar bela e com altura,
Prá só a mim ela amar.

Um mestre como eu sou
Em tratando uma mulher
No seu corpo, sou Doutor;
Faço nova se eu quiser.
Trabalho com atenção
O corpo que examino,
Deixo uma perfeição
Depois serei seu menino.

Criarei uma Simbiose
Entre nos dois é preciso,
Nosso sangue tem osmose
Isso tem, eu não retiro.
Cuidarei bem de você
Você vai cuidar de mim
Ainda está prá nascer,
Quem te ame tanto assim.

Depois grande, forte, cheia;
Agora que tá parruda,
Olha o monte, olha a bunda,
Olha o corpo, se enleia,
Toda vez que está desnuda.
Essa mulher toda cheia
Tudo isso recebeu
É só seu não é de meia
Agradeça a quem te deu
Pois seu mestre é o Dirceu.

domingo, 17 de julho de 2011

   

   A DONZELA
     DIRCEU AYRES


Amo tanto essa donzela
Dela eu sinto muita falta
Se deixá-la, me escalpa!
Pois pertenço todo a ela.
Toda vez que eu a vejo
Sinto cheiro de Jasmim
Pois nela só penso assim,
Vou amá-la com desejo.     

Isso me rasga por dentro
Pois dela eu não me afasto
Tanto amor eu não agüento
Se ela quiser, eu me mato.      
A donzela é tão querida
Minha vida é com ela,     
No coração uma ferida
Pensamento é todo dela.    

Pra viver nessa amargura
Sem ter ela só pra mim
Sinto dentro uma gastura
Não vou viver sempre assim.
Portadora de um feitiço
Tão forte que me fissura
Tenho de acabar com isso
Não vou viver na amargura.

Vou fugir, e me esconder,
Não ficarei  lamentando
Esse é todo o meu querer,
Ficarei sempre pensando.
Sentirei muita saudade,
Dela não me esquecerei.
Olharei a minha idade,
Mesmo longe a amarei.     

Essa loirinha danada
Faz a vida uma doçura
Tem de ser muito amada
Sua vida é só ternura.
Essa Donzela é paixão
Mesmo morto vou amá-la
Não pode ser uma ilusão
Se puder vou carregá-la.