sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A INTERNETE E O CORDEL.

           Dirceu Ayres
Vou te contar amigão
A história sem sujeira
Acontece sempre em feira
Lá no alto do sertão
Numa forma mais ligeira
Ecoou na terra inteira
Causou uma admiração.

Zé Mané, ou Zé Grandão,
Poeta bom de Cordel,
Falava como Menestrel
Pois assim a arte se expande.
Sargento, cabo ou Coronel,
Gente burra arranha céu,
Escrevia não sei prá donde.

Era um rapaz sem manha
Sofrer ele agüentava,
Pois se toda dor passava.
Viajou prá Grã-Bretanha.
Já chegou falando Inglês,
Falando também Francês,
Era cabra de façanha.

Com tudo ele rimava
Na rua ou feira pequena,
Sempre era a mesma cena
E o povo se admirava.
Os cordéis que ele vendia
Com voz rouca e cantoria
Vendia, também apurava.

Com os “tipos” manuais
Toda impressão ele fazia
E o matuto bem queria
Viver no mundo com paz.
Só não se compreendia
Quando o matuto nos dizia
Que ele ia para os jornais.

Pois o Mané Cordelista
Picou-se prá Capital
Em sua Cidade natal
Trabalhou como artista.
Trabalhou o condenado,
Estudou feito um danado,
Mas se tornou Jornalista.

 Aprendeu na linotipo
Com telex e off set,
Com fax, pintou o sete
Sem citar o teletipo.
Passou a fazer enquête,
Só não comia Gilette
Sabia ser esquisito.

Poeta de grande Dom
De tudo que ele fazia
Só falava em Poesia
Recitava em vozeirão.         
Com saudade da Maria
Toda hora, todo dia
Praticava o violão.             

Os anos foram passando
Tempo não vai prá trás,
Zé grande, nosso rapaz,
Já tava se adaptando
De tudo que a vida faz
Nunca nada é demais
E o estudo foi chegando.           

A máquina de escrever
Usando tempos seguidos
Entupigaitou seus ouvidos
Como quem leva bofete.
Agora que tinha sabido
Que prá tá no modernismo,
Tem de ir, prá Internet.

 Não leu, não questionou
Com essa moda lançada
Mesmo estando enviesada
O poema ali botou.                 
Uma surpresa danada
Na home Page botada
Pro o mundo, todo levou.

Agora com a internet
O poema vai distante
Num segundo, ou instante
Na Itália ou no agreste
Homem, mulher e menina
Como se fosse um berrante,
Das mágoas o povo esquece.

Zé Grandão veio prá cidade,
O matuto não esqueceu
Da terra onde nasceu
E trouxe sua habilidade.
E com isso se fixou
Na terra que lhe criou
Para a sua felicidade.

Se for por falta de espaço
Prá seus versos colocar
É preciso alguém mandar
Coloca-lo assim ao léu.
Depois só fotografar
Em um site publicar
E vai viajar a granel.

Agora o poema tá na web
E se você não concebe
O que agora com escala
Em uma pequenina casa,
Quem não podia criar lebre
Mas levado pela febre,
Tem o computador na sala.
 
Agora o computador
Vai chegar lá no sertão.
E na Internet porque não
Tem lugar prá rimador?,
É uma grande pressão
Ou uma descriminação
Que o Zé não tolerou.

Mas logo se acostumou
Largou de tá encrencando
A internet tá usando
Seu Poema colocou.

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